Repercussão do Desaparecimento
Milton Santos
ANTONIO CANDIDO, crítico literário, professor emérito da USP: "A morte de Milton Santos é uma perda irreparável. Ele representava nas ciências humanas o que se pode chamar de ala combatente. O que foi Florestan Fernandes na sociologia, ele foi na geografia humana. Nos seus trabalhos, o rigor científico nunca foi obstáculo a uma consciência social desenvolvida e profundamente arraigada nos problemas do Brasil. Era um cientista de vanguarda e um grande cidadão".
AZIZ AB'SABER, geógrafo, professor emérito da USP: Milton Santos foi um filósofo da geografia. Foi um intelectual comprometido com a sociedade e com os excluídos. Um cidadão que reuniu o conhecimento do mundo do seu tempo para pensar as necessidades do Brasil. Eu digo isso com sinceridade porque o conheci quando ele veio da Bahia como advogado e professor secundário de geografia. Tivemos uma longa convivência.
DENISE STOKLOS, atriz, antiga admiradora do trabalho do geógrafo, cujas obras serviram de base para algumas de suas peças, disse que o admirava muito por ser "extremamente revolucionário e capaz de falar as coisas mais fortes com serenidade".
MARIA ADÉLIA DE SOUZA, geógrafa, professora da USP, definiu Milton Santos, como "um revolucionário, na mais bonita concepção da palavra". Demorei a enfronhar-me em suas conversas: seu sub-texto é que era precioso. Sua ironia imaculada. Sua alegria contagiante. O Brasil perdeu com Milton muito dela e da sua ternura, atributo inadmissível para tão difícil, firme e complexa personalidade. Mas quem se esquecerá da elegância e da ternura de Milton? Sua obra ainda pouco conhecida e estudada no Brasil revoluciona não apenas a Geografia, mas as ciências humanas e sociais.
ZENO CROCETTI, geógrafo, professor de geografia em Curitiba; ele optou por humanismo e mudou a ciência, as idéias de Milton Santos influenciaram da arte à administração pública no Brasil. A poderosa palavra de Milton não se limitou aos livros ou às aulas universitárias. Chegou inclusive aos palcos, por meio das vozes dissonantes levadas a cena pela atriz, diretora e autora Denise Stoklos, repercussão do discurso representou a consagração do humanismo na cultura, como foi observado no ano passado, quando ele recebeu o Prêmio Multicultural 2000 Estadão Cultura. Generoso, ofereceu sua premiação "aos brasileiros, que muito esperam de seus intelectuais".
CELSO FURTADO, economista e ex-ministro do Planejamento (63- 64) de João Goulart: "Conheci o Milton na Europa, no exílio, depois do golpe de 64. Era uma pessoa modesta, muito simples, e só aos poucos fui percebendo a grandeza de seu pensamento. Não era apenas um cientista social, era um homem de pensamento muito rico e abrangente. Nunca tinha visto um geógrafo com tamanha amplidão de vista e percepção dos problemas maiores da sociedade".
MARTA SUPLICY, prefeita de São Paulo: "São Paulo perde um colaborador que organizava um grupo para pensar o impacto da globalização nos grandes centros urbanos, mas o Brasil perde muito mais. Perde um dos seus grandes pensadores, alguém que não tinha o medo de pensar o novo, uma pessoa como Sérgio Buarque de Holanda e Darcy Ribeiro".
MARCO AURÉLIO GARCIA, secretário da Cultura de São Paulo: "O país perde um de seus últimos intelectuais com visão abrangente e profunda do Brasil. A inteligência sofreu um golpe. Mas as idéias e o exemplo do professor Milton Santos perdurarão".
PAULO SÉRGIO PINHEIRO, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da USP: "Conheci o Milton em setembro de 1967, em Paris, na casa de Celso Furtado. Era um mestre e um grande humanista. Foi um dos maiores geógrafos do século 20. Para a USP e a cultura brasileira, é uma perda chocante".
CARLOS LESSA, economista, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro: "O Milton era uma figura de proa do país. Ele está para a geografia moderna no mesmo nível que o Fernand Braudel [historiador francês] está para a história. Era um intelectual engajado nas causas sociais e democráticas”.
MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES, economista, professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro: "Milton Santos morreu? Ai, mas que má notícia você me deu agora. É uma mágoa terrível. Eu queria muito bem a ele. Ia deitar para dormir um pouco, mas agora não vou mais conseguir. Eu o prezava muito. É só o que tenho condições de dizer agora".
FRASES
"O fato de eu ser negro e a exclusão correspondente acabam por me conduzir à condição de permanente vigília"
"A cultura oficial brasileira (...) nutriu-se de uma visão vesga do mundo”.
"Havia um autoritarismo explícito que convocava à oposição da inteligência, mas hoje há um autoritarismo encapuzado, mais eficaz, porque nasce niilista e termina niilista”.
"O debate atual do Brasil é esse: não dá para dar as costas à globalização, só que ela está sendo descrita de maneira incorreta”.
"Não sou militante de coisa nenhuma. Essa idéia de intelectual apreendi com Sartre, de uma independência total, distanciou-me de toda a forma de militância”.
MILTON SANTOS depoimento à revista Adusp, nº 17.